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2016 - Como o aquecimento global pode afetar a diversidade da Mata Atlântica

Por Alexandre Mansur (Época)

Um levantamento das espécies de anfíbios na região do Lagamar, entre as regiões Sul e Sudeste do Brasil, revelou uma riqueza em risco. O estudo foi feito pelo Instituto de Pesquisas Cananeia (IPeC). Os cientistas pesquisaram a diversidade de espécies da ordem dos anuros. São os sapos, rãs e pererecas.

Segundo Peterson Leivas, biólogo da Universidade Federal do Paraná e coordenador do estudo, esses animais, por suas características, são indicadores de saúde do ambiente. Como dependem da pureza da água, são sensíveis a alterações no ambiente, como desmatamento ou mudanças no ciclo de chuvas. Também são extremamente sensíveis à poluição, especialmente a substâncias tóxicas.

O objetivo do trabalho era avaliar a sensibilidade dos anuros – e do ecossistema – às mudanças climáticas. “Em uma escala global as mudanças climáticas vão afetar em algum grau as comunidades de animais e vegetais em todo o mundo, contudo, não é possível saber ao certo os efeitos locais dessas mudanças sobre a biodiversidade. Nos últimos 100 anos, a temperatura da Terra aumentou cerca de 0.7 °C e as estimativas indicam que até 2100 haverá um aumento entre 1.1 °C e 6.4 °C”, afirmam os pesquisadores. “Existe ainda a preocupação do efeito da elevação do nível do mar em áreas de baixas altitudes, o que pode resultar no desaparecimento de áreas, como ilhas e parte da planície costeira. As alterações futuras do clima podem afetar diversos grupos de animais devido à modificação dos padrões ecológicos, fisiológicos e comportamentais em resposta às mudanças globais do clima.”

O Lagamar é uma das regiões prioritárias para a conservação. É um trecho de Mata Atlântica particularmente bem conservado entre o Litoral Sul de São Paulo e o norte do Paraná.

Os pesquisadores encontraram 103 espécies de anuros. Dentre elas, foi possível avaliar o status de conservação de 66. Apenas 35 delas estão com uma população estável. Quinze espécies têm uma população claramente em declínio. A principal ameaça, segundo os pesquisadores, é a destruição dos brejos e florestas para ocupação imobiliária.

As mudanças no clima afetam os anfíbios de várias formas. Um dos problemas é a perda de área. O aquecimento global está elevando o nível do mar. A invasão de água salgada nos brejos, restingas e pântanos pode afetar alguns dos anfíbios. Outro problema, segundo os pesquisadores, são as mudanças no microclima das montanhas. “Áreas mais elevadas são acompanhadas de nuvens, o que oferece um clima mais úmido e com menor temperatura. Muitas espécies, tanto de animais quanto de plantas, são restritas a faixas específicas das montanhas devido a esse microclima. Contudo, com o aumento dos gases causadores do efeito estufa, essas áreas podem ser deslocadas mais acima das montanhas, o que pode afetar plantas e animais com pouca mobilidade”, afirmam os cientistas. Outra ameaça ainda é a descaracterização ou o desaparecimento de áreas de reprodução dos anuros, como brejos, poças e riachos, por causa da maior evaporação de água.

Hoje, apenas três áreas do Lagamar (duas no Paraná e uma em São Paulo) têm condições de suportar a fauna de anfíbios. Dessas áreas, só uma está numa unidade de conservação de proteção integral (a Estação Ecológica de Guaraguaçu). A segunda está num pedaço da área de proteção ambiental (APA) de Cananeia-Iguape-Peruíbe (que permite exploração imobiliária, por exemplo). E a terceira não é uma área protegida de forma alguma, na região de Paranaguá.

Quando os pesquisadores rodaram modelos com possíveis alterações de temperatura na região do Lagamar, as áreas favoráveis à manutenção das espécies atuais diminuíram. Num cenário de aquecimento global conservador, pode ocorrer uma  ampliação da área boa para os anuros. No entanto, em cenários mais pessimistas as áreas mais propícias estão concentradas na porção do Paraná nos municípios de Pontal do Paraná, Paranaguá e Matinhos. Escrevem os pesquisadores: “Considerando as condições climáticas como modeladores de distribuição futura das espécies, os esforços conservacionistas devem ser concentrados principalmente nas áreas com elevada adequabilidade ambiental no Paraná, sendo prioritária a manutenção e ampliação da Esec Guaraguaçu. Devem-se planejar, ainda, a criação e a ampliação de unidades de conservação na região de Paranaguá, onde a modelagem indicou uma manutenção da alta adequabilidade ambiental em um futuro pessimista”.

O estudo do IPeC é financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pesquisadores lembram que é preciso fazer mais estudos para dar mais segurança ao levantamento. Mas os resultados dão uma ideia do impacto das mudanças climáticas para a rica fauna da Mata Atlântica. E mostram a importância de áreas de conservação para reduzir o tamanho dessas perdas.

Fonte: epoca.globo.com
 

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