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2017 - A restauração de ecossistemas em UCs: cuidados para evitar erros

por Giselda Durigan (Instituto Florestal de SP)

Planos de Manejo são construídos com base, geralmente, em relatórios de especialistas, que caracterizam os ecossistemas pelos seus atributos ambientais, pela biodiversidade e pelas ameaças a que estão submetidos. A partir desses trabalhos, um grupo de coordenação constrói o Plano, que estabelece os objetivos do manejo, o zoneamento, as normas de cada zona e detalha os programas de manejo.

Uma das zonas possíveis é a Zona de Recuperação, em que os ecossistemas apresentam alguma forma de perturbação e precisam ser restaurados. Os ambientes perturbados mais comuns são áreas em que a vegetação nativa foi destruída (desmatamento, fogo ou cultivo, por exemplo), áreas sob efeito de borda ou áreas ocupadas por espécies indesejáveis (ruderais, invasoras ou mesmo nativas superdominantes), sendo a restauração focada na cobertura vegetal. Em algumas situações mais graves, os solos podem estar severamente degradados pela erosão ou os corpos d’água comprometidos pelo assoreamento, exigindo intervenções mais radicais. Todas essas situações indesejáveis requerem ações que devem ser indicadas nos Programas de Manejo.

O problema é que nem sempre a equipe de planejamento conta com especialistas em restauração ecológica. O resultado da ausência desses profissionais, muitas vezes, são normas ou programas de manejo equivocados, que, ao invés de contribuir para a recuperação dos ecossistemas, podem resultar em retrocesso ou até em novos problemas ecológicos.

As intervenções de restauração, em qualquer situação, visam conduzir o ecossistema à condição mais próxima possível daquela que existia anteriormente à perturbação. Muitas vezes essa é uma meta inatingível e, nesses casos, é aceitável restaurar pelo menos os serviços ecossistêmicos. No entanto, no interior de Unidades de Conservação (UCs), a restauração deve buscar, a todo custo, reproduzir as paisagens, restabelecer a composição de espécies e os genótipos locais, assegurando a esperada conservação da diversidade biológica, em todos os níveis, e os processos ecológicos a ela associados.

Diretrizes para a restauração bem-sucedida em UCs

• a primeira ação de restauração no interior de UCs deve ser o controle e, se possível, a erradicação de espécies exóticas invasoras. A indicação das espécies e o grau de ameaça que oferecem devem constar no relatório dos especialistas em vegetação;
• a restauração passiva, ou seja, a regeneração natural do ecossistema sem necessidade de intervenção, é preferível em relação ao plantio, exceto quando a recobertura rápida do terreno for desejável para controlar processos erosivos ou para evitar reocupação por espécies invasoras;
• em áreas que foram cultivadas com eucalipto, pinus ou outras espécies comerciais em ciclos longos, geralmente basta o corte e retirada das árvores plantadas para desencadear a regeneração natural (neste caso, a técnica é denominada regeneração natural assistida);
• quando o plantio de sementes ou mudas for indispensável, devem ser utilizadas sementes colhidas na própria Unidade de Conservação (UC), e
• a colheita de sementes no interior da UC deve estar expressamente autorizada e normatizada no Plano de Manejo, para plantio dentro da UC ou em sua Zona de Amortecimento (Art. 26 do Decreto Federal nº 4.340/2002).

Erros mais comuns

Os erros mais comuns que têm sido constatados nas intervenções de restauração no interior de Unidades de Conservação são os seguintes:

• plantio de árvores onde a vegetação natural nunca foi florestal. Por exemplo, em campos úmidos e várzeas;
• plantio de mudas de espécies que não são nativas daquela UC. Têm sido constatados plantios de restauração utilizando espécies brasileiras de outras regiões e, também, espécies exóticas, até mesmo com potencial invasor, colocando em risco os ecossistemas naturais de toda a Unidade, e
• plantio de mudas de espécies nativas da UC, mas produzidas com sementes de outras regiões (contaminação genética).
 
Giselda Durigan é pesquisadora científica do Instituto Florestal, formada em Engenharia Florestal pela Universidade de São Paulo (USP) com pós-doutorado pelo Royal Botanic Garden da Escócia.

*Texto publicado originalmente em 2013 no informativo IF notícias nº15

Fonte: iflorestal.sp.gov.br
 

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